19/06/2017
Por: marketing

Trio Nordestino resgata origens da música local

“Canta o Nordeste” apresenta canções de Gordurinha, Dominguinhos e João do Vale

0

“Olha Pro Céu”, “Bate Coração”, “O Vendedor de Caranguejo” e outros clássicos compõe o repertório do CD do Trio Nordestino

No mês das festividades juninas, o novo disco do Trio Nordestino é um alento para os apegados à tradição. “Canta o Nordeste” captura o trio munido de zabumba, triângulo e sanfona. Ao longo das 14 faixas que compõem o repertório, Luis Mario, Beto Sousa e Jonas Santana cantam, de fato, a terra onde nasceram, e que cedeu ao mundo nomes do porte de Luiz Gonzaga, João do Vale, Gordurinha, Rosil Cavalcanti e Cecéu, todos presentes no álbum. É justamente por ir até essas origens que o trabalho é pródigo em preservar a essência da musicalidade regional, ao passar não apenas pelos temas caros a sua gente, mas, sobretudo, pela sonoridade alegre e festeira contida tanto nas melodias quanto nos arranjos. Estes encontram, em sua simplicidade, o caráter de sua riqueza, já que deles transborda um bem imaterial: a identidade. E essa identidade é diversa, como provam as diferentes abordagens.

Da lavra de Gordurinha, “Súplica Cearense” é tão triste quanto “A Morte do Vaqueiro”, de Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho. Por outro lado, a malícia está presente na seminal “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, assim como em “Sou o Estopim”, de Antônio Barros, nesta de maneira ainda mais abrasada. Mas é a alegria que marca o conjunto do disco, não apenas pela ocorrência, mas por sua característica formadora de uma população que, a despeito de todas as mazelas diárias, transmite com indisfarçável desfaçatez gana e vontade de viver em festa. Daí aparecem canções de teor romântico, sobretudo a já clássica “Bate Coração”, de Cecéu, eternizada por Elba Ramalho; “De Teresina a São Luiz”, narrativa da trajetória do retirante nordestino; “O Canto da Ema”, prova das crendices populares da região, inesquecível na interpretação de Jackson do Pandeiro; e tantas outras.

Participações. Apesar de versar sobre seu mundo, o trio não se fecha a bem-vindas participações. Zeca Pagodinho comparece em “Súplica Cearense” e não deixa barato ao contribuir com sua específica dicção, que traz um molejo necessário à música. Já Lucy Alves, a despeito do talento musical, não tem a mesma sorte, menos por sua culpa que pela escolha do arranjo. Neste caso, a decisão de manter a identidade do trio prejudica a própria canção, tão associada ao canto raivoso de Maria Bethânia quando esta a interpretou no espetáculo “Opinião”, em 1966, que a naturalidade com que os integrantes tratam a agressividade do pássaro protagonista de “Carcará” tende a retirar a densidade do impacto causado em outros tempos.

Estilo. Do baião ao xaxado, com paradas regulares no forró mais dançante, o álbum entrega resultado satisfatório tanto para os ouvidos que apenas almejam contemplar as histórias traçadas, quanto para os que não se fazem de rogados em receber a música no corpo todo. O melhor exemplo é “Tenho Sede”, obra do casal Dominguinhos e Anastácia. A obra do sanfoneiro com sua esposa à época é pródiga em sua poesia singela, e na melodia ao mesmo tempo esfuziante e romântica, própria para o começo das paixões.

Afinal de contas, como de praxe na música nordestina que tomou todo o Brasil a partir da ascensão do Rei do Baião Luiz Gonzaga, o poder imagético das canções tem a qualidade de levar o ouvinte até o coração de suas aflições, delírios, viagens, desejos, desatinos e desavenças. É a aldeia que fala para o mundo todo. Basta ouvir.

Fonte: O Tempo

 





Avenida Santo Amaro, 1386 - 3º andar - Vila Nova Conceição Cep: 04506-001 - São Paulo - SP
© 2013 Todos os direitos reservados | Tech House Soluções