Foi a curiosidade do filho pela música que despertou em Moacir a antiga paixão, e também o que acabou atraindo, há quase dois anos, as primeiras crianças para o que seria o início da banda.

De lá para cá, muita coisa mudou. Os instrumentos, que eram sucateados, foram substituídos por novos com a ajuda da cooperativa Unimed Sul Capixaba.

O professor de música contou que quando começou a ensinar o filho a tocar instrumentos, outras crianças da região ficaram sabendo e o procuraram. “Elas apareciam na minha casa, para saber se eu podia ensiná-las também. Vi ali uma oportunidade de fazer a diferença na vida delas, mesmo que eu tivesse poucos recursos para ajudá-las”, disse.

Foi então que surgiu o Projeto Música na Comunidade, que deu origem à banda Jesus de Nazaré, que hoje conta com 26 crianças e adolescentes de baixa renda com idades entre 10 e 17 anos.

No início, os instrumentos eram poucos e velhos. Foi com a doação da Unimed Sul Capixaba e também de empresários que Moacir conseguiu expandir o projeto. “No início a gente trabalhava com sucata, praticamente. Instrumentos musicais são caros, eu não tinha condições de comprar, mas com as doações, conseguimos seguir em frente e convidar mais crianças”, disse.

Hoje a banda conta com saxofone, flauta transversal, clarinete, trompete, flauta doce, trompa, bateria, pratos orquestrais, tambor e acordeon.

O trabalho é duro. Moacir é responsável por passar aos integrantes da banda a parte teórica e também faz ensaios na casa dele, às quartas, sextas e domingos.

“A gente vai trabalhando a teoria musical até o aluno se tornar um músico funcional. São crianças de baixa renda, então as boas oportunidades são raras para elas. O interessante é ver o quanto elas se agarraram a essa chance, temos alunos que tocam muito bem”, explicou.

A verba da cooperativa também proporciona a ajuda do maestro Lucas Alonso na banda. Ele mora em Marataízes, município vizinho, e os custos da viagem até Cachoeiro de Itapemirim ficam por conta do projeto. Todas as terças e sábados é ele quem ensaia os alunos no galpão da igreja do bairro Valão.

“Passo as músicas do repertório com eles, que hoje já está bem variado. Trabalhamos desde músicas religiosas até populares, como Despacito. Agora estamos na época dos ensaios das músicas natalinas, por causa da época”, contou.

As mudanças fora do projeto também acontecem. O maestro destacou que os participantes da banda estão mais concentrados e as notas na escola melhoraram.

“A música que fez isso com eles, essa parte disciplinar melhorou muito. São alunos que fazem parte de uma comunidade um pouco complicada, e temos a chance de tirar o tempo ocioso deles, que poderia ser usado de uma maneira ruim”, destacou.

Alunos como a Thamyres Dalvi, de 12 anos, que começou no projeto sem saber tocar qualquer instrumento.

“Eu via o Moacir ensaiando outras crianças e pensei ‘quero ver se consigo também’. Comecei do zero, primeiro com a flauta, depois com o saxofone e agora estou no clarinete. Minhas notas melhoraram bastante, meu comportamento dentro de casa e na escola também. Eu ficava muito pela rua, agora coloquei na minha cabeça que se eu me interessar mais pela música e pelos estudos, posso ter um futuro melhor”, disse a menina.

E os frutos desse trabalho são o verdadeiro pagamento para Moacir e Lucas. Thamyres, por exemplo, já está tocando com a Banda 26 de Julho, tradicional de Cachoeiro de Itapemirim. Outros dois vão entrar na Banda do 38º Batalhão do Exército, em Vila Velha, no próximo ano. Ainda há alunos que começaram a conseguir uma renda extra tocando em casamentos.

A Banda Jesus de Nazaré também tem feito apresentações em praças, escolas, eventos na cidade de Cachoeiro de Itapemirim e também na igreja onde atua.

Para o vice-presidente e diretor da Unimed Sul Capixaba, Gil Gonçalves Azeredo, a ajuda dada ao Projeto Música na Comunidade faz parte dos princípios do cooperativismo, que inclui o interesse pela comunidade.

“Temos interesse na região onde atuamos. No caso da banda, demos um ‘empurrão’ com a verba para os instrumentos, e eles aprenderam rápido”, destacou.

O aprendizado dos participantes da banda é motivo de orgulho. “Por causa da música, eles ficam com a capacidade de concentração melhor e o trabalho em grupo também contribui para a integração entre eles. Cada um aprende uma nota e colocam tudo junto para formar uma melodia”, acrescentou Azeredo.

É o que também pensa o maestro Lucas Alonso. “É muito bonito ver a evolução de crianças que não sabiam nem segurar um instrumento. A gente descobre talentos, é muito gratificante participar disso”, finalizou.